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Jornal Metro

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Corinne Bailey Rae em entrevista ao Metro

Horas antes de subir ao palco, Corinne Bailey Rae confessou ao METRO que adora tocar ao ar livre. Esperava-a um jardim fantástico – o Parque Marechal Carmona, Cascais –, um ambiente tranquilo, uma noite de Verão e uma lua cheia memorável. “The Sea” é o mais recente álbum da cantora britânica, que passou este sábado pelo Cool Jazz Fest. Depois de uma pausa no trabalho, após a morte do marido, há dois anos, Corinne regressa mais madura e experiente. Recuperou os temas que já tinha começado e pôs de pé um álbum em que a variedade de estilos é palavra de ordem.

 

Créditos: Fernando Mendes

O que espera para o concerto desta noite?

Acho que vai ser um concerto muito simpático. Adoro tocar ao ar livre e adoro festivais de jazz. Há algumas influências de jazz no meu álbum, também há canções mais agressivas e talvez mais pop e rock. Há uma grande variedade de estilos e espero que o público goste.

 

Quais as principais diferenças entre este álbum e o primeiro, lançado em 2006?

Este álbum tem muitos estilos. Muitas canções de amor, mas também sobre política, espiritualidade, experiências pessoais, coisas que vivi. É um álbum mais vivo, mais caótico, com mais dramas da vida, mais experimental que o primeiro álbum.

 

Tem uma música favorita neste álbum?

Tenho muitas favoritas. Na verdade acho que todas o são. Quando as escrevemos estamos sempre a voltar a elas para as acabar, seja no refrão, nos versos… Adoro o “Closer”, é muito intimista, é sobre não gostar de alguém para não se sentir responsável por essa pessoa. Gosto muito do “The Blackest Lily”, “Diving for hearts”. Adoro a melodia do “I would like to call it beauty”. É uma excelente canção. Podia continuar por aqui fora, porque sim… gosto de todas.

 

Por que escolheu a “The sea” como nome para o álbum, então?

Achei que era uma boa metáfora para todas as experiências que nos ultrapassam e que são tão poderosas que nos levam a algum lugar. O mar é um fenómeno natural fantástico, é de onde vem a vida, e pode suster-te, mas também te pode destruir. É algo que é maravilhoso mas que ao mesmo tempo é algo que nos aterroriza. Por isso achei que era uma boa forma de olhar para o amor, para a perda, e para a espiritualidade. Era uma boa imagem para essas três coisas.

 

Essa música é sobre o seu avô, certo?

Sim, ele teve um acidente e morreu no mar. E os filhos deles estavam lá e viram tudo acontecer à sua frente. É um tema que mostra que as coisas nos acontecem, e não as conseguimos arrancar de nós. E elas têm, de facto, um grande impacto em nós, e não conseguimos fugir. Elas vão estar sempre lá. E escrevi esse tema antes da minha própria experiência de perda. Por isso era algo em que eu já pensava.

 

“Are you here” é o tema que dedica ao seu marido. A morte dele mudou-a? É uma mulher diferente agora?

Não me sinto mudada. Sinto que foi importante voltar a trabalhar no álbum. Já tinha escrito seis ou sete músicas e fui ouvi-las e fiquei aliviada porque percebi que era a mesma pessoa que as tinha escrito. Acho que somos um pouco um produto das experiências que temos, sinto que tive uma experiência que nunca tinha vivido. Sinto-me mais experiente, mas ainda me sinto a mesma pessoa. Aliás… Sinto-me é velha (risos)

 

Não está nada velha! Sei que percebeu há pouco tempo que as palavras não são suficientes expressar tudo o que sente. Porque acha isso?

Há muitas coisas que queremos comunicar e as palavras parece que não são fortes o suficiente. E é por isso que a música é fantástica. Podes cantar uma nota e isso pode mudar completamente uma palavra. Podes esticar a nota, e andar em tons diferentes. E podes repetir as mesmas palavras com diferentes acordes, ou instrumentos. A música traz novos significados. Por isso, a música é excelente para trazer diferentes sentidos às palavras.

 

Em criança tocou violino e na altura não se conseguia imaginar como cantora. Quando  percebeu que sabia cantar?

Eu adorava tocar na minha banda, na altura tinha 15 anos. E começámos a dar concertos mais à seria um ano depois. Acho que foi quando me começaram a dizer que sim, que eu cantava bem. Quer dizer, recebemos sempre elogios da família, dos amigos, dos pais dos amigos. E pensava que só o diziam para ser simpáticos. Foi mais ou menos por ouvir as opiniões das outras pessoas e por sentir que podia escrever canções com coisas que pensava na altura. Mas foi uma autêntica revelação para mim.

 

E o violino? Não voltou a tocar?

Ainda o tenho, mas não é como andar de bicicleta, que nunca se esquece. Sinto que os meus dedos estão maiores e estão mais habituados à guitarra. Talvez volte a tocar um dia.

 

E se não fosse cantora, o que seria hoje em dia?

Ai, não sei… adorava fazer algo relacionado com arte, criatividade. Ai, mas não sei mesmo. Adoro a música… talvez fosse pintora, realizadora, escritora. Adoro a parte da criatividade e poder trabalhar com as mãos.

 

Já tinha estado em Portugal…

Sim, em Lisboa, julgo que em 2006. É muito bom voltar. É um país lindo. Adoro a mistura de culturas e adorava voltar em férias por exemplo.

 

“Put your records on” é uma das suas músicas mais conhecidas. Se eu lhe pedisse para escolher alguns temas para por a tocar, quais seriam?

Há uma música que gosto imenso que é “Fall in love”, da Erykah Badu. É uma canção que não é habitual. O refrão diz “não vais querer apaixonar te por mim”. É empurrar alguém, colocá-lo  de parte.  Depois há o“I only have yes for you”. Adoro essa música. Curtis Mayfield: “Love to the people”. Talvez um tema da Madonna, mesmo dos anos 80 e um reggae “Is this love”  do Bob Marley, é linda.

 

 

DESAFIO METRO

O que vem a seguir? What´s next Corinne?

Próximo concerto: o que vou dar em Singapura, daqui a dois dias

Próximo filme: Um da Sofia Coppola, adorei os últimos dela. “Maria Antoinette” e “Lost in translation”.

Próxima viagem de férias: Leeds, em Setembro, é o regresso a casa. Não vou lá há 3 meses. Em Londres dizemos “staycation”.

Próximo livro: “A long story”, de Adrian Levy

Próximo álbum: “Wake up the nation” de Paul Weller

 

 

Entrevista com St. Vincent: Nossa Senhora de Brooklyn

 

 

 

Há poucas semanas o Metro ligou para casa de Annie Clark, conhecida no mundo da música como St. Vincent, onde a apanhámos em férias. Férias de uma digressão bem longa, como nos explicou. Íamos ajudando a causar um acidente doméstico, mas acabou por correr tudo bem... A cantora e compositora toca esta sexta-feira, dia 16 de Julho, no festival Super Bock Super Rock, no Meco. Aqui fica a simpática conversa que Annie teve connosco.

 

Annie, está em digressão, nesta altura?

Agora não estou em digressão, estou de férias, acho eu. Ai... que nojo... Bem... Estava a tentar fazer um café com uma mão e falhei miseravelmente. Estou em casa e isso é estar de férias! Estou a fazer o novo álbum.

 

Tem sido um ano longo de digressão?

Sim, estive fora praticamente o ano todo. Parei em Abril, acho eu. Tive dois meses de férias.

 

Então esta é a melhor altura para começar a preparar um disco.

Sim, eu tenho de parar um pouco, porque estar na estrada deixa-nos extenuados. Vivemos o mesmo dia um ano inteiro seguido. Depois disso temos de tomar um banho gelado, de ler muitos livros e lembrar-nos de quem somos. Como que tornar-nos de novo a pessoa que éramos, quando a nossa vida parou. Então Tenho andado a ver filmes e a falar com pessoas.

 

Mas está habituada a digressões, já desde pequenina. A Annie já tinha sido “tour manager” da banda do seu tio, quando era adolescente... é verdade?

Sim, era uma espécie de roadie dos Tuck and Tight quando tinha 15 anos. Estou habituada à estrada e eles também faziam muitas viagens.

 

Que memórias tem dessa altura?

Lembro-me de ser mais cansativo. Lembro-me de estar três noites sem dormir, porque andávamos em digressão pela Europa. Lembro-me de adormecer no chão do aeroporto de Munique, talvez e quase perder o voo! Estranhamente, outra memória que tenho desse dia, é chegar ao avião, assim à última, e estar lá o Coolio. Lembras-te do Coolio?

 

Sim, o rapper, do “Gangsta’s Paradise”

Exactamente! Basicamente é o que me lembro!

 

Deu-lhe muita experiência de estrada.

Sem dúvida. Lembro-me também de um concerto no sul da Itália, numa praça, sem seguranças. Depois de a banda sair do palco, toda a gente começou a aproximar-se deles, de forma simpática, a pedir autógrafos e tal, mas tive de fazer de segurança! Eu, com 15 anos! Tive de usar da força para atravessarmos todos uma multidão e proteger a banda!

 

Com aquilo que viveu e aquilo que tem vivido com a sua banda já podia quase escrever um livro.

Olha, isso pode ser uma ideia para a minha reforma!

 

Falando deste momento de se reencontrar consigo, aí em casa, nos últimos dois meses. Como tem sido? Tem feito muita música?

Estou naquele ponto em que tenho apontado tudo o que me tem vindo à cabeça. Não estou a julgar nenhuma ideia, a refinar ou a deitar nada fora. O último disco que fiz chegou a um ponto em que senti muita pressão. Não no sentido que tinha de vender um milhão de discos, mas pressão comigo própria, por sentir que tinha de ser uma melhor compositora, mais sofisticada do que no passado. E parecia que o processo não era divertido. Mas agora não parece que não tem de ser tão agreste, tão complicado. Agora vou escrevendo tudo o que vem até mim. É mais divertido.

 

Mas está a dizer que quando escreveu “Actor” não se divertiu?

Tive algum divertimento, mas acho que estava mais concentrada a tentar provar algo a mim própria. Estava a ler um livro de Alex Ross, que é como a história da história da música orquestral moderna. E estava a ler aquilo, a ouvir exemplos, como bandas sonoras, a inspirar-me para aquilo que queria escrever e foi óptimo. Mas agora estou a ouvir coisas mais rítmicas. Por exemplo, estou a ouvir muito o Rhythm Nation, da Janet Jackson! É espectacular! Há essa mudança.

 

E agora tem essa vantagem: já que é mais compositora, talvez já possa fazer aquilo que lhe apeteça.

Acho que sim! Obrigada! E é isso mesmo que eu vou fazer: vou fazer o que me apetecer! E talvez outras pessoas também gostem.

 

E já tem ideias de quando é que vai sair?

Não tenho ainda, mas de certeza no próximo ano: Primavera, Verão, talvez. Mas tudo pode acontecer.

 

 

 

 

Esta altura do ano, de festivais, para si também deve ser interessante, até porque deve encontrar e fazer muitos amigos no mundo da música.

Sim, por exemplo, os The National, de quem sou uma grande fã e amiga. Vou abrir para eles em Munique. E posso dizer mesmo: “Bem, os meus amigos são muito talentosos!” Fala-se muito hoje em dia na imprensa da cena da música daqui de Brooklyn, mas eu acho que é verdade: por exemplo, os Grizzly Bear, The National, Dirty Projectors, Sufjan Stevens... Há uma espécie de companheirismo. Parece que estamos todos felizes por vermos que estamos todos a ser sucesso e ninguém está a fazer o mesmo, todos têm o seu território.

 

Esse movimento de Brooklyn faz-me lembrar o movimento que havia em Seattle com o grunge, em 90, obviamente com outro som.

Eu sempre idealizei o grunge por aquilo que ouvia quando tinha 9 anos – porque via muita MTV, ouvia Nirvana e Pearl Jam, mas nunca soube muito bem como é que era em Seattle naquela altura. Não faço ideia se era esta camaradagem e falta de pretensiosismo de chegar ao pé de um amigo e dizer: “Queres tocar no meu disco?”. Eu fiz isso com o Bon Iver e vou fazer agora com o David Byrne, que anda por aí por todo o lado, de bicicleta.

 

E vai fazer o quê com ele?

Fizemos uma composição orquestral para ser tocada no Lincoln Center, em Agosto. Mas além disso andamos a escrever umas canções juntos, por isso há-de sair qualquer coisa! Talvez um disco!

 

Como vai ser o seu concerto aqui em Portugal?

Eu nunca estive aí, mas era para ter ido de férias uma vez só que à última hora tive de cancelar. Este vai ser um concerto de três elementos em palco, por isso vai ser algo mais orquestral do disco.

 

Já vai mostrar algo novo, ou ainda é difícil?

Bem, vão ser versões novas das canções, mas não vai ser material novo.

 

E também é curioso, porque ainda há pouco estávamos a falar deles: vai tocar no mesmo dia dos Grizzly Bear.

Eles vão estar no festival?

 

Sim, eles, os The National, The Temper Trap, Beach House!

E os The National tocam no mesmo dia que eu?

 

A Annie toca sexta-feira e os The National tocam no domingo.

Ah, ok. Então nós vamos abrir para Grizzly Bear e Beach House! Ai meu Deus! Estou tão contente! Vai ser “fucking awsome”! Deves estar a gozar comigo!

 

Não, a sério! E no domingo, se ficar cá, ainda vê The National, Empire of The Sun e o Prince.

(silêncio) O quê?! Bem, este festival é o maior... Estou muito entusiasmada! Muito mesmo!

 

Bob da Rage Sense em entrevista

O seu pai era um grande admirador de Bob Marley. Viu-o duas vezes ao vivo nos anos 70. Daí o seu nome: Robert. Ao Metro confessa o que o inspira e o que o indigna. "Diários de Marcos Robert" é o mais recente álbum de Bob da Rage Sense.

 

 

Como nasce o nome deste álbum? Quem é Marcos Robert?

Bem, o nome nasce da paixão que tenho pela América Latina, das revoltas populares e das grandes revoluções que fizeram história, Marcos somos todos, é uma metafora inspirada no partido zapatista Mexicano (EZLN), que tem muitos significados, como por exemplo: Um gay em São Francisco, um homem negro no Apartheid, um jornalista sem portfolio, um escritor sem meios pra editar as suas obras e etc. São basicamente todos aqueles que pertencem a uma minoria excluída...

 

Este é um álbum cheio de colaborações. Quem destaca? E com quem gostava um dia de trabalhar?

Este foi o álbum que me deu mais prazer trabalhar, tudo aquilo que visualisei concretizou-se, desde a produção musical e artística às participações fortes que ele traz, como o New Max, Sam the kid, Sir Scratch, Dino, Tamin, Laton, Dj Scotch RAF TAG e etc. Não faço destaques porque na minha opinião todos estiveram muito bem. E quanto a futuras participações gostaria muito de trabalhar com pessoas que me inspiram a escrever e a fazer música, como o Chico Buarque, Manuela Azevedo (Clã) e muitos mais nomes nacionais e internacionais.

 

O álbum foi lançado no dia 11 de Novembro, dia da Independência de Angola. O dia não foi escolhido ao acaso, pois não? Porque escolheu esse dia?

O dia foi escolhido de propósito, tendo em conta que eu nunca acreditei que Angola fosse realmente independente e cada álbum que gravo serve como
um veículo de libertação, para quem sonha com a verdadeira democracia em Angola e não só.

 

Quais as diferenças face ao álbum anterior?

Já tenho dois álbuns editados antes deste: "Bobinagem" e "MPLA (Menos Pão, Luz e Água)". E cada álbum traz um registo musical diferente, desde a composição lírica à parte instrumental. O "Bobinagem" é um álbum mais virado para o meio hip hop (foi eleito o melhor álbum independente em 2004), e no "MPLA" ja se nota um discurso muito mais abrangente e mais melodia nas músicas, mais refrões cantados. A diferença que o "Diários de Marcos Robert" traz é o meu lado mais orgânico, tenho o João Cabrita nos sopros (saxofone, trompete e etc), tenho o João Gomes (Cool Hipnoise e Orelha negra) nas teclas. Isto é algo que nunca tinha feito antes, chamar músicos para tocar nas faixas.

 

O seu pai era grande admirador do Bob Marley. É verdade? Foi daí que veio o seu nome?

Sim, o meu pai era grande fã de Bob Marley, viu-o duas vezes ao vivo nos anos 70, era mesmo fanático, por isso me chamo Robert (Bob).

 

Em que é que isso o influenciou, em termos musicais?

Tudo o que sou e faço pela arte é consequência da música do Bob Marley, as letras dele fizeram-me ganhar uma outra perspectiva sobre o mundo e as sociedades, a crença na paz e no amor são factores muito importantes para sobreviver nesta selva de betão. Quem conhece os meus trabalhos
sabe que a flosofia é igual à do Bob: paz, amor e união.

 

 

O tema “Nunca estiveste na minha pele”  fez-me querer perguntar-lhe... Pode dar-me exemplos de situações concretas, reais, em que sentiu o racismo na pele?

Esse tema não retrata propriamente situações que vivi baseadas em racismo ou algo parecido. Trata-se do medo que as pessoas têm daquilo que desconhecem. Eu nasci e cresci em Luanda, Angola, e quando cheguei cá e comecei a ter alguma "ascenção" no hip hop "Tuga" senti que muitas pessoas desenvolviam sentimentos estranhos em relação a mim, sentimentos de ódio e inveja em relação ao meu trabalho, já ouvi mesmo coisas como "Vem esse gajo de Angola a querer ocupar o nosso lugar"... Não havia lugares marcados quando cheguei cá e consegui encontrar o meu também. Já vivi situações tristes cá como nunca tinha vivido quando estava em Angola mas pronto, como disse o meu mano Mc K "uma gota de sucesso, um oceano de rivais". E esta letra é sem dúvida a minha favorita do álbum, senti-me bem depois de a ter gravado, senti-me aliviado.

 

Em que é que se inspira para escrever?
Inspiro-me em tudo, leio muitos livros, vejo muitos filmes e documentários, inspiro-me no quotidiano, política, Bob Marley, Rage Against the Machine, Common Sense, Chico Buarque de Hollanda, Vinicius de Morais, John Lennon, Jim Morrison, Pink floyd e muito mais...

 

Considera-se um político da música?
Eu considero-me uma pessoa politizada que quer apresentar os seus pontos de vista de forma escrita e cantada. A política faz parte de tudo o que nos rodeia por isso não nos podemos dissociar dela, sou político sim, mas mais um ser humano que se importa com tudo que está mal.

 

Escolha três palavras para definir o álbum. E três para o definir a si...
Álbum: Ritmo, Arte e Poesia.Eu: Humanista, objectivo e verdadeiro.

 

FOTOS: David Francisco

 

 

Videoclip oficial do segundo single do álbum. Chama-se "Andar à chuva"

 

 

Entrevista com Os Pontos Negros

 

 

 

O METRO falou com Jónatas Pires e com Filipe Sousa, os dois guitarristas e vocalistas d'Os Pontos Negros. A banda tem um álbum novo, chamado "Pequeno-Almoço Continental", onde nos servem rock and roll português, fresquinho para o tempo quente que aí vem. Por entre guitarras e teclados, os rapazes de Queluz - que começaram a banda na cave da igreja Baptista de Queluz - estão mais maduros e falam-nos agora de sentimentos: "Não podemos estar uma vida toda a fazer músicas sobre histórias inventadas ou coisas fúteis." Aqui fica a conversa completa que serviu de base para a peça publicada no jornal de hoje.

 

Este "Pequeno-Almoço Continental" já é material com mais utilidade?
JP – Não sei... é totalmente diferente do outro. O próprio conceito, tanto em termos de som como de estética. O que havia no "Magnífico Material Inútil" era um disco linear, muito compacto, com canções com a mesma produção e som do início ao fim. O artwork era também muito simples, quase "do it yourself". Aqui é uma coisa mais elaborada, tanto em termos de som como de grafismo. Não que achemos que o outro disco deixou de ser válido, mas este representa aquilo que a banda é agora. Mantêm-se algumas coisas, claro, que são os nossos traços característicos, mas é um passo em frente, para tentarmos ultrapassar os nossos limites.

Em que é que sentem que cresceram?
FS – Não sei se crescemos. Acho que acima de tudo estamos é mais confortáveis a tocar uns com os outros. É uma aprendizagem que se vai fazendo de disco para disco e acho que perdemos um certo medo de experimentar coisas novas. Há coisas que mudaram, mas não comprometem a essência da banda.

Nota-se mais o trabalho do Silas [Ferreira] nas teclas.


JP – É propositado! Achámos – nós e o Jorge Cruz, que produziu – que o Silas estava a ser sub-aproveitado.
FS – O Silas não, os órgãos!
JP – E o Silas também. Aliás, ele aqui até já toca mais sintetizadores. Tivemos a oportunidade de gravar com um Hammond B3 e com um amplificador Leslie, um Minimoog e mais uns sintetizadores. Às tantas já nem se via o Silas, era só trocar as mãos! Quisemos mesmo que o Silas sobressaísse, mas acho que as canções continuam a viver muito daquilo que as guitarras fazem. Agora o Silas assumindo um papel mais preponderante também dá mais espaço e liberdade para as guitarras fazerem outra coisa, além de segurarem per se as canções. É claramente uma aposta ganha e muito do som do disco deve-se também ao Silas que esteve com o Jorge a fazer as misturas.

Como é que estas canções começaram a nascer?
FS – Houve ali um momento em que os concertos acabaram, houve uma pausa, e foi aí que começámos – fizemos duas ou três feitas. Em Janeiro e Fevereiro acabámos por fazer o resto. Foi um processo simples.
JP – As minhas canções – e como temos dez, no total, dá cinco a cada um – as minhas canções são o meu 2009, posto em disco. Nesse sentido acaba por ser mais um disco pessoal do que o anterior, que vivia muito de narrativas inventadas, histórias escritas que não transpareciam a realidade. Não é confessional, mas é quase como curar as feridas, tirando-as do corpo e pondo-as no disco. Para mim é um bocado isso. Acho que uma das coisas que acho que conseguimos com este disco – e como estamos a falar de coisas que nos são caras... – acho que o sentimento consegue passar cá para fora. O mais importante é que as pessoas quando ouvem as canções que as entendam, mas também que possa ser algo mais visceral, já que a música também deve interferir com o teu corpo e fazer ter reacções que não são muito pensadas. Por isso é que se bate o pé e se dança e não se dá conta.

É mais uma mostra do amadurecimento da banda, o facto de mostrarem mais o sentimento?
FS – O ser mais sincero? Eu acho que isso faz parte da evolução natural de uma banda. Não podemos estar uma vida toda a fazer músicas sobre histórias inventadas ou coisas fúteis. Às vezes sentimos a necessidade de mandar o que está dentro cá para fora. Nesse nível sim, é mais sincero. Acho que mostra amadurecimento, sim, porque deixamos de estar preocupados com aquilo que as pessoas vão pensar e queremos escrever o que sentimos. Não estamos presos àquilo que as pessoas vão pensar.
JP – Sim, tentando sempre não fazer, de uma forma que seja básica e simplista. Já chega a quantidade de música que as pessoas ouvem que não os obriga a pensar. O disco é curto e rápido, mas não é tipo fast-food, de digestão fácil. Claro que escrever canções de amor e que falem de felicidade é muito difícil como faz, por exemplo, o Stevie Wonder. Nas palavras de outra pessoa soa a piroso, mas como é o Stevie Wonder, soa bem. É tentar dizer as coisas de forma a que as pessoas, intelectualmente, se sintam confusas e desafiadas. Por exemplo, o single, "Rei Bã", tem como refrão: “Morte ao meu sorriso”. E há pessoas que ficam confusas e não percebem porquê.
FS – Gostamos de escrever coisas de forma mais subjectiva para as pessoas ficarem a pensar. É um disco que pede mais atenção às pessoas.
JP – A partir do momento em que um artista é compreendido por toda a gente, deixa de ter interesse.

E torna os álbuns de consumo mais imediato. Mas, Jónatas, afinal o que acontecia se o Variações fosse teu barbeiro [faixa 6]?
JP – Essa música para mim é o enterrar do caixão do Variações. Já não vou escrever mais sobre ele, mas basicamente é o meu epitáfio para ele: o sujeito da canção é a música portuguesa. Ou seja, se o Variações continuasse a ser o barbeiro da música portuguesa, o seu aspecto seria muito mais aprazível. Quem ouve aquilo por ouvir pode pensar que o que eu queria era que o Variações me cortasse o cabelo.
FS – Também pode ser interpretado assim!
JP – Sim, não é vergonha nenhuma, mas esse não é o verdadeiro sentido da canção.

 

 


Nestes dois últimos anos a vossa vida mudou muito?
FS – Em Lisboa as pessoas são um bocado acanhadas, saímos à rua com a mesma normalidade. Não mudou quase nada. O que mudou foi a agenda, temos de conciliar o tempo útil da semana entre concertos e viagens e passamos mais tempo fora de casa.

Foram dois anos de mais rock and roll e tudo o que isso implica... concertos, festas e bastidores... Foram também dois anos mais pecaminosos?
JP – (Risos)
FS – Para nós são todos os dias! Não estamos livres disso.
JP – Nada disso, foram dois anos de muito divertimento e companheirismo.
FS – Temos noção que são os melhores anos da nossa vida por isso é aproveitar ao máximo, com responsabilidade. Mas não há sentimentos de culpa!

A co-produção do disco é do Jorge Cruz. Foi muito diferente de trabalhar com o Tiago Guillul? Desta vez também foram para o Norte do país gravar, nos Boom Studios.
JP – Todas as circunstâncias que moldam o "Pequeno Almoço Continental" têm que ver com o facto de termos saído de Lisboa e passado dez dias em Espinho, a termos que fazer a viagem todos os dias pela costa, o facto de estarmos só nós com o Jorge e concentrados no trabalho. No outro disco, acabávamos de gravar e íamos para casa, ter com a família... era como um dia de trabalho. Ali foi quase como ir para o estrangeiro! Mas não se pode comparar em termos quantitativos a diferença com o Tiago, com quem adorámos trabalhar. O Jorge tem uma forma diferente de trabalhar do Tiago.

 

 

 

 

Entrevista com Expensive Soul

 

Neste “Utopia” os Expensive Soul parecem ter crescido um pouco mais, assumiram o funk, a soul e o hip hop como linhas orientadoras e talvez tenham deixado um pouco para trás as músicas com travo a reggae. É assim?
Max – Nós tínhamos era os singles com um som mais reggae. Tivemos uma música reggae em cada um dos discos. Calhou serem os singles e parece que ficámos neste registo. Mas temos outros sons e ficámos ligados. Agora neste disco já não fazia sentido.

Como é que houve a decisão de dirigir a música para esse caminho mais específico?


Max – Fomos crescendo com isto até encontrarmos o caminho em que nos sentimos realmente bem. Começámos com 16 ou 17 anos e na altura fomos até ao R&B, ao “Dr. Dres”, Timbalands, mas começámos a ouvir outras coisas e hoje em dia já são coisas ainda mais diferentes. As nossas influências acabam por estar lá, o nosso sexto sentido também. Hoje em dia também já compramos muito vinil dos anos 60 e 70 e para este disco houve essa pesquisa, de como se gravava na altura e que tipo de material se usava.
Demo – E mesmo a nossa direcção também mudou um bocadinho. Sabes quando estás a ouvir música e já nada te bate daquela forma que te inspira, que te faz mexer e curtir. Ainda não tínhamos encontrado aquilo que queríamos fazer.
Max – Sempre foi uma salada de frutas, porque era hip hop, era soul, era funk, era reggae. Era tudo! E faltava-nos definir-nos um bocadinho. Tem a ver com a maturidade: nós crescemos, estamos mais velhos – em todos os aspectos e o disco também transparece isso um bocadinho.

Acaba por ser o resultado da consolidação da vossa ideia relativamente à música.
Max – Sim. Acredito que o próximo disco já será mais nesta linha. Podemos experimentar outras coisas, mas acho que já encontrámos o nosso caminho.

Este “Utopia” também vem um pouco na sequência do seu disco a solo, Max, o “Phalasolo”, que também era muito nesta linha. Este tem mais a vertente hip hop. E o Max dizia que eram canções que não eram muito viradas para o que os Expensive Soul faziam.
Max – Na altura eu já ouvia mais isto e se calhar o Demo não. Agora estamos mais em sintonia.
Demo – Completamente. Eu, principalmente, estava a passar uma fase complicada porque não gostava de nada do que ouvia. É incrível porque voltei tudo atrás – são coisas que já se fizeram – e encontrei aquilo que sinto. Apesar de achar que “Phalasolo” tem um registo e os Expensive têm outro.
Max – Sim, é mais instrumental. Aqui é mais o formato canção.

Nota-se mais o trabalho de equipa.
Demo – Sim. Este para já tem logo os raps, as dicas, os beats.
Max – O “Phalasolo”, para mim, foi uma aprendizagem para poder chegar aqui. Mesmo a nível de produção, por exemplo.

E para si, Demo, o “Phalasolo” também foi importante ou o gosto pela música soul e funk já vem de mais de trás?
Demo – Sem dúvida que é um disco de influência. É um grande disco, muito bem conseguido para qualquer músico, mesmo que não goste do estilo. É bem tocado, bem gravado, boas músicas, boas letras. Quando eu e o Max falámos quisemos transpor um bocado disso para Expensive, que achávamos que precisava disso.

Como foi fazer a passagem dessa concepção da música para um disco? Foi complicado?
Max – Foi natural. Muito por culpa do sexto sentido. Ouvimos muita coisa que vai ficando cá dentro. A ideia deste disco – e que foi o mais difícil – foi juntar uma sonoridade mais antiga aos beats de 2010. E acho que essa mistura foi bem concebida.

É uma coisa que salta muito ao ouvido: é um disco com um som velho. Vem da produção ou dos instrumentos?

Max – É das duas. E também da captação. Os órgãos Hammond podiam ter sido gravados directamente, mas optei por usar antes amplificadores e distorção. Também fiz isso nos baixos, os microfones usados foram os “ribbon”, de fita, antigos.
Demo – Depois acho que há outra coisa: se ouvirmos os discos dessa época, Marvin Gaye ou outros da Motown, são discos muito quentes! É tudo gravado em mesa de válvulas e fita. Hoje os discos são muito clean, limpinhos, brilhantes. Quisemos um meio-termo. Essa produção é obra do Max e foi muito bem conseguido. Acho que é um disco que dá para viajar muito mais do que os outros.
Max – É um disco que é capaz de agradar ao pessoal que gosta das coisas mais comerciais, como o single “O Amor é Mágico”, mas também há outras como “Game Over”, mais underground e alternativo.

Os sopros são também uma novidade nos Expensive Soul.
Max – Já tínhamos feito alguma coisa, mas neste disco está mais presente.
Demo – E fazia sentido, porque o registo deste disco vira-se mais para este tipo de som, para o uso de metais.
Max – Também já sabíamos que queríamos trabalhar com eles ao vivo e então pusemo-los logo em disco. Agora tocam em todas e mesmo aquelas em que não tocavam, nos discos anteriores, fizeram arranjos.
Demo – E para nós é uma combinação perfeita: temos tudo a ser tocado ao vivo em palco, é uma combinação muito mais orgânica.

E ao vivo, como vai ser passar essa sujidade toda para o vivo?
Max – Já o fizemos, mas tivemos de aumentar a banda. Agora este disco já foi pensado para ser mais fácil transpor para o vivo. Temos muitos ensaios, mas está a soar bem.
Demo – O importante são as dinâmicas – e que este disco pede muito mais.
Max – Às vezes há quatro teclados em simultâneo e isso é complicado!
Demo – E tem corrido optimamente bem! Principalmente para mim, que estive este tempo parado. Estava com fome disto, das pessoas a cantarem as nossas músicas.

O Max fez o “Phalasolo”, nesta paragem dos Expensive Soul. E o Demo, fez alguma coisa ligada à música?
Demo – Eu conciliei com a minha vida de DJ...
Max – Eu perdi dinheiro, ele ganhou! (risos)
Demo – Eu andei a ouvir muita coisa, a sacar muita informação. Mas sempre a par das coisas. O “Phalasolo” é como se fosse meu. E mais, ainda o álbum do Max não estava feito e já havia canções para Expensive.

Só mais duas curiosidades: como é que o Max, com uma voz tão grave, canta agudos desta forma?
Max – Pois, é estranho.... (ri-se)
Demo – É como o James Brown, também ninguém o percebe!

E outra: o “Phalasolo”, o seu disco a solo, foi um disco gratuito, de download na Internet. Acabou por perder dinheiro, não é?
Max – A minha ideia era fazer muitos concerto e isso não aconteceu. Só dei dois... E 2009 foi um ano muito mau. Só algumas bandas é que fizeram concertos e passou-nos ao lado. Mas eu cheguei às pessoas que queria chegar. Mas fiquei com pena de não ter tocado mais porque preparei tudo para ficar muito porreiro ao vivo, com uma banda do carago!
Demo – Mas este ano já está melhor, acho que as pessoas já se começaram a organizar.

Pensa em voltar a repetir essa experiência?
Max – Por exemplo, se fizer um seguimento de “Phalasolo” talvez faça a mesma coisa!  Porque a solução não está em vender discos. Mas percebo que quem gosta de música queira ficar com uma recordação. Lembro-me que havia muitas pessoas que queriam mesmo comprar o disco.
Demo – Chegámos a ponderar em lançar este “Utopia” apenas em vinil. Vamos editar uma edição especial em breve. Antes prefiro mil vezes ouvir um vinil. Quem quer música digital tem o iPod.

 

Entrevista com Grizzly Bear

 

 

 

Ed Droste é o vocalista e guitarrista dos Grizzly Bear. A banda vai estrear-se em Portugal na próxima semana, nos dias 26 de Maio no Coliseu de Lisboa e no dia 27 no Coliseu do Porto. O METRO falou com o músico - que mora actualmente em Brooklyn, Nova Iorque - e aqui fica a conversa que deu origem ao artigo que foi hoje publicado no jornal.

 

Esta vai ser a vossa primeira vez em Portugal. Tem algumas expectativas?
Ouvi de alguns amigos que Portugal é um muito divertido para se tocar, que o público é bem louco e barulhento. Vamos ver se as condições permitem um concerto porreiro, não sei se vai ser com cadeiras para se sentarem, ou não, e criar as condições de festa que os meus amigos me falaram.

Mas tem amigos em Portugal?
Tenho amigos que já tocaram em Portugal e me disseram isso.

Como tem corrido a digressão deste disco, "Veckatimest"? Já são muitos meses na estrada. Estão cansados?
Sim, tem sido um ano muito longo, mas neste momento estamos numa boa altura porque não é digressão constante. Tocamos aqui e acolá, dá para ter algumas semanas de férias entre concertos. O próximo é mesmo aí com vocês, em Lisboa e no Porto. Depois seguimos para o Primavera Sounds, em Espanha, e paramos outra vez. Depois Glastonury... o ano passado, no Outono, posso dizer que foi a digressão mais longa que já fiz: dez semanas, todas as noites um concerto. Eu não te vou mentir, cheguei ao fim dessas dez semanas e sentia-me muito cansado!

Então é uma boa altura do ano para vocês. Dá para ter férias. Nessas alturas aproveita para descansar ou não consegue largar a música?
Há algum descanso... tenho um cão para passear, vejo os amigos que deixo de ver durante muito tempo, a família... digamos que aproveito para me chegar junto das pessoas que deixamos de ver. Quando o primeiro disco sai, os primeiros seis a oito meses são longe de tudo. Quando voltamos: “Ah, tens um bebé”, ou “ah,vais-te casar!”. É um período para compensar o tempo perdido. E claro, vai-se sempre tentando fazer alguma música, mas aproveitar o bairro onde moramos. Gosto muito de cozinhar... bom sou muito doméstico.

E o Ed vive em Brooklyn, não é? O que é que se passa neste momento à volta dessa zona de Nova Iorque? Há um hype enorme e tantas bandas porquê?

Eu nasci em Massachussets, mas acho que aqui há um enorme apetite por música ao vivo, como resultado, há muitos sites e revistas. As hipóteses de alguém escrever sobre o teu concerto aqui em Brooklyn ou Nova Iorque são muito maiores do que se estiveres no Kansas, por exemplo. Ou até mesmo São Francisco. É o centro da música de hoje em dia, sobretudo Nova Iorque. Há muitas bandas que não são necessariamente de Brooklyn, que se mudam para cá e começam a fazer música. E depois há muitos bons sítios para tocar: grandes e pequenos. Dá para tudo!

É um movimento semelhante ao do grunge, em Seattle, de há 20 anos, mas com outra música: o movimento indie?
A questão é que há muitos, muitos tipos de música. Não é só o indie. E acho que é mesmo Nova Iorque. Há muitos artistas que dizem que são de Brooklyn, mas vivem em Manhattan. Não sei se vai durar muito, mas espero que sim, porque é óptimo viver aqui e descobrir novos artistas.

Ficaram surpreendidos com a recepção e o sucesso de “Veckatimest”?
Muito surpreendidos. Não esperávamos nada disto, mas são sempre coisas inesperadas, sobretudo na indústria da música. Não sabemos o que é as pessoas vão gostar ou durante quanto tempo é que vão gostar de algo. Para nós a grande novidade foi mesmo a Europa. O primeiro disco, “Yellow House”, não foi nada de especial, mas tínhamos o nosso público nos EUA e no Canadá. Foi como se tivéssemos estabelecido uma ideia de quem queríamos atingir. Só que com “Veckatimest”, na Europa, passámos do nível zero para... eu sei lá! As salas muito cheias e muito maiores do que aquelas onde já tínhamos tocado. Mas é tudo incerto, se calhar daqui a dois anos vamos ter 80 pessoas num concerto aí em Portugal, que sabe! (risos) Lisboa vai ser um concerto grande, mas acho que o Porto vai ser um concerto pequenino.

No Porto? Acha que vai ser mais pequeno?
Não faço ideia, mas eu já estive no Porto de visita e pareceu-me uma cidade pequenina. Mas se calhar tem uma grande cena musical por lá e eu não sei. Se calhar vamos ser surpreendidos, espero que sim!

Então já esteve em Portugal?
Sim, uma vez de férias, em 2000.

Apesar de tudo, a que acha que se deve o sucesso deste disco?
Eu nem diria que é um sucesso assim tão grande! Quer dizer, está a correr bem, mas não é uma explosão como Franz Ferdinand ou Arctic Monkeys. Não nos vão ouvir na rádio, nem nada.

Na rádio não, mas chegámos a ver-vos e a ouvir-vos num anúncio, na televisão. Acha que ajudou à fama?
Bem, não sei. O anúncio foi muito tempo depois do disco sair... Talvez na Europa tenha ajudado a ganhar alguma exposição. Para bandas do nosso tamanho são coisas que podem ser muito boa!

A verdade é que as pessoas hoje ouvem música de uma forma muito diferente.
É daquelas conversas que dá pano para mangas! Eu dou muito crédito à Internet. Acredito que sem blogs, sem revistas online os grandes media, como a televisão, não tinham chegado a nós. Por isso, em muitos aspectos, acho que a partilha de ficheiros e de discos é – frustrante, sim – mas a longo prazo a excitação da música é mais importante do que as perdas de dinheiro. É isso que faz as pessoas ir aos concertos. Mas sim, é verdade, as pessoas ouvem de forma diferente. Por exemplo, no iTunes compram-se as músicas e não os discos. Existe uma dissociação dos álbuns que pode ser muito frustrante. Mas por mim tudo bem, se uma pessoa gosta só de uma canção... é com eles, não conseguimos agradar a todas as pessoas.

Falando também do futuro dos Grizzly Bear. Já pensam noutro disco?
Temos qualquer coisa na cabeça, mas para nós é muito difícil escrever enquanto estamos em tournée. Preocupamo-nos muito e despendemos muita energia para fazer um bom espectáculo ao vivo e depois há os jet lag e tudo mais. É difícil concentrarmo-nos assim... Nós fazemos um disco quando decidimos parar, sair da cidade e recolhermo-nos todos juntos. Talvez este Outono comecemos a trabalhar em algo mais.

Mas sentem alguma pressão, depois de terem feito um disco que foi considerado dos melhores de 2009?
Sentimos sempre, um bocadinho. Mas a única coisa que podemos fazer é não deixar que dite aquilo que fazemos e tentar fazer música em que todos nós acreditemos. Sempre que essa pressão aparecer temos de pensar: “Será que eu gosto disso?”.  Não podem ser os outros a moldar o nosso julgamento.

 

 


Uma curiosidade, Ed: o Jay-Z diz que bandas como os Grizzly Bear ajudam o hip hop a ir mais longe. O que acha disso?
Eu fiquei muito honrado por o Jay Z ter vindo ao nosso concerto. Eu sou um grande fã de hip hop. Mas em relação a isso acho que ele quis dizer que há uma certa complacência e estagnação – porque continuam a apostar nas mesmas fórmulas, como samplar uma canção. Acho que quis dizer que como há tanta banda boa a explorar e a testar música, talvez seja altura de o hip hop fazer uma introspecção e ver como é que se pode reinventar as fórmulas.

 

 


E só então para terminar: o que podemos esperar dos concertos nos Coliseus?
É muito diferente do disco, mais bombástico, mais propulsivo. Acho que as pessoas vão ficar surpreendidas ao ver como a bateria é um elemento chave. E estou muito contente por podermos levar as nossas luzes todas, que eu adoro: são uma espécie de frascos com pirilampos lá dentro.

 

 

 

Entrevista com The National

 

 

 

O METRO falou com Aaron Dessener, um dos compositores da banda. Foi na garagem dele, em Brooklyn, que os The National construiram o estúdio onde gravaram o sucessor do aclamado "Boxer". "High Violet" é o novo disco do grupo de Matt Berninger, Aaron e Bryce Dessner, Bryan e
Scott Devendorf. A 18 de Julho vamos poder vê-los no festival Super Bock Super Rock.

 

Como foi ir para estúdio depois do sucesso de "Boxer"? Foi difícil fazer este disco?
Acho que foi mais fácil, porque construímos um estúdio na minha garagem, nas traseiras da minha casa, em Brooklyn. E isso parece que deu uma espécie de naturalidade e um tom caseiro ao disco. Foi um processo mais orgânico e com menos pressão. Para nós o mais difícil é acabar as músicas...

Essa é outra história, mas já lá vamos! Então este álbum foi como fazer um disco em casa.
Sim, porque o meu quarto é, literalmente, ao lado da garagem. Eu acordava e ia para lá. Foram 13 meses a experimentar e a gravar músicas, muitas delas que nem sequer estão no disco. É um disco muito épico, grandioso, mas com esse tal toque caseiro. Carrega uma humildade.

Essa ausência da pressão de um estúdio tem reflexo na música?
Podemos ser mais espontâneos nas nossas ideias, na bateria, nas guitarras. No estúdio estamos quase sempre a dar o máximo, porque estamos a alugar o espaço. Não é que seja mau, estarmos a esforçar-nos, mas quando estamos em casa – e na garagem – toda a gente sabe que pode repetir um milhão de vezes. Acho que o "Boxer" é um álbum incrível, mas é muito polido, muito considerado. Este "High Violet" é mais orgânico, mais casual, mais complexo.

Conseguimos ouvir mais algumas orquestrações, por exemplo.
Sim, acho que se deve a podermos ter tido o tempo para trabalhar que quisemos. É um disco mais elaborado, nota-se isso na textura, mais sólida, e acho que isso se deve à orquestração.

 

 

 

 

Estava a falar da dificuldade de finalizar uma música nos The National. Que história é essa? A que se deve isso?
Acho que é porque há cinco opiniões na banda, todas elas muito conscientes. Não há apenas um compositor que traz músicas, mas antes um processo colaborativo. É uma coisa muito democrática e encontrarmos um ponto central em que todos nos entendamos, estes cinco homens, é uma guerra! E depois somos todos ouvintes obssessivos de música e queremos fazer música que nós gostemos. Sabemos que não é fácil fazer boa música. Música fácil é o mais fácil de se fazer, até porque nós fazemos muita. E deitamos fora. É importante ter a sabedoria de deitar fora as músicas mais fáceis, mais óbvias, mais convencionais. Não é que estejamos a tentar reinventar o rock and roll, só queremos é fazer músicas honestas com emoção e sentido.

O facto de o Matt apenas cantar ajuda ou dificulta o processo de composição?
Acho que torna mais difícil. Ele não toca nada. Canta, escreve, arranja umas melodias. Ele demora muito tempo e nós escrevemos muitas músicas para ele que ele nem sempre acha interessante. É um processo estranho, sabes? Não é intuitivo, é idiossincrático. Parece que andamos em falsas partidas, más experiências até chegarmos àquilo que achamos que é o melhor. Mas calculo que é o que faz qualquer compositor: tentar tudo e procurar aquilo que é especial. Mas não faz mal que o Matt não toque nada, é quem ele é!



Parece que existem alguns conflitos na banda. Mas também são esses conflitos que fazem com que os The National criem música? Estarei certo?
Bem... talvez... Não são conflitos pessoais, são fricções. Nós já somos uma banda há mais de dez anos e quando fazemos um álbum é um processo de criação muito intenso, porque sabemos que o vamos estar a tocar depois durante dois ou três anos. Todos nós nos preocupamos muito. Há fricções, tensões e lutas, mas acho que dessa tensão e frustração sai boa música, sim... Adorava que fosse mais fácil, mas acho que o som da banda vem mesmo deste processo. Mas não deixa de ser divertido.

Até porque os cinco membros da banda terão bom gosto em música. Isso também não facilita, será cada um a puxar para o seu gosto.
É verdade. Ninguém vive isolado e acha que aquilo que ouve e escreve é que é de génio. Estamos muito consciente de toda a música e quando pomos um álbum cá fora é para partilhar com a melhor música que já foi feita. Nós não conseguimos comparar, mas os nossos fãs costumam fazê-lo e isso é bom!

Já começaram a apresentar o disco ao vivo?
Estreámos em Londres, em dois concertos. Estamos entusiasmados, porque temos muitas músicas e é uma experiência interessante para o público.

Qual foi o feedback que tiveram do público?
Têm sido óptimas. Sentimos que as pessoas estão a gostar. Mas a nossa música costuma demorar algum tempo a entrar nas pessoas... não sei porquê. Mas agora já está na net. Acho que vai ser interessante ver como é que as pessoas reagem às novas canções.

Qual é a sua opinião sobre os downloads de álbuns na Internet? A favor ou contra?
Eu tenho uma opinião ambivalente. Acho que são excelentes para a música, porque as pessoas ouvem mais música e isso é bom para as bandas. Mas eu, se puder, compro o disco porque gosto e tenho em conta a qualidade. Mas é uma realidade inevitável, que as pessoas fazem o download ilegal de música. Mas eu prefiro que as pessoas conheçam mais a música, por isso é algo que não me faz perder o sono.

Vêm este Verão para tocar no Super Bock Super Rock. Têm boas memórias?
Adoramos tocar em Portugal! É, de longe, um dos nossos países preferidos para tocar. Tivemos um concerto espectacular, perto do Porto, em Guimarães, memorável, há dois anos. Um dos melhores. O ambiente em Portugal, a paixão das pessoas pela música, é algo de extraordinário. Vamos no Verão e sei que voltamos depois, de certeza.

 

 

 


É curioso que a vossa música não aparece muito nem na rádio nem na TV. Mas conseguiram criar um hype interessante à vossa volta. Como se explica?
Brincamos e dizemos que somos uma espécie de banda de sussurros nos becos. As pessoas falam de nós em surdina! Beneficiamos muito do boca a boca e da paixão que os fãs têm por nós e em Portugal é algo em que isso salta muito à vista. Noto isso com outras bandas, também em Portugal: por exemplo, os Arcade Fire, quando tinham editado apenas o "Funeral", tinham 20 mil pessoas a cantar as músicas deles. Há uma cultura underground em Portugal muito forte. Nós, se calhar, só agora é que estamos a sair um bocadinho desse movimento e a prestarem-nos mais atenção.

Os media tratam-vos bem?
Acho que sim, a maioria. Temos sempre um grupo de pessoas que nos ouvem rapidamente e muito casualmente. E daí vêm os rótulos. Não são essas as pessoas que devem ouvir a nossa música, porque não é nada superficial. Tem várias camadas, muito significado. O próprio espaço entre as palavras é importante... gostamos mais das pessoas que dedicam tempo aos discos e que respondem pessoalmente ao que lá está.

 

 

 

Mind Da Gap: "Somos resistentes como as baratas"

 

Aqui fica a entrevista completa com Ace, um dos MC dos Mind Da Gap. As fotos são de André Tentugal.

 

Os Mind Da Gap estiveram quatro anos sem gravar um disco. Porquê tanto tempo?
O tempo passa rápido e nunca pensamos nesta coisa de fazer discos de uma forma muito racional e matemática. Fazemos quando temos vontade de os fazer e achamos que estamos os três sintonizados na mesma frequência para isso conseguir ser feito. Os quatro anos passaram rápido, quase nem demos conta, porque entretanto também andámos nos concertos de “Edição Ilimitada”, saiu a compilação e acho que não se proporcionou estarmos os três na tal mesma frequência.

Aconteceu alguma coisa que tenha dado o mote para arrancarem com este “Essência”?
Nada de externo, só mesmo a vontade de fazer o disco novo, de estarmos os três juntos e de voltarmos à rotina do estúdio, ouvir instrumentais, escrever temas, escolher músicas...

Fizeram o disco de forma diferente do que têm feito ao longo destes 17 anos?
Este "A Essência" talvez represente uma diferença maior em relação ao outro. Porque o álbum que gravamos é sempre uma reacção aos trabalhos anteriores. Em relação ao "Edição Ilimitada" é um simplificar de processos, dentro do seio da equipa criativa, de tentarmos ser mais directos e sem grandes floreados. Acho que acabou por ser aquilo em que pecou o anterior, mas em 17 anos de carreira, queremos ser, como dizem os americanos, "push the envelope", ou seja, procuramos sempre ser originais. Não é uma busca consciente, mas acaba por acontecer de uma forma irreflectida procurar inovar e inventar coisas que tenham interesse para as pessoas. Neste o inventar se calhar foi dar um passo atrás para podermos seguir em frente. É um bocado o regresso ao passado, ao "Sem Cerimónias" e "Suspeitos do Costume", em que não complicávamos muito a coisa, íamos pelo primeiro instinto.

É um disco mais directo à mensagem do hip-hop? Ou àquele ideal que dizem que o hip hop tem?
Também não sei! Eu ouço muitas vezes as pessoas dizerem isso e caracterizarem o hip hop como uma corrente meia política e de intervenção, mas eu não concordo com essa chapa. Acho que o hip hop, tal como o rock, é aquilo que as pessoas querem que ele seja. Tanto pode ser político – como há muitos projectos virados para aí – como pode ser algo de festa e diversão. Eu acho que este é um bocado mais interventivo e político.

Claro que o conceito do hip hop abrange vários gostos e se calhar neste “A Essência” até parece que conseguem misturar as duas facetas: a de festa, o interventivo. E também parece ter alguns momentos mais de festa e outros até dirigidos ao romantismo, talvez... Estou a falar do tema "Sintonia".
É um bocado a nossa imagem. Sempre tivemos esse equilíbrio, porque também é a música que ouvimos, não ouvimos só um tipo de rap nem educamos os nossos ouvidos a ouvir um só tipo. Na altura em que havia uma grande rivalidade nos EUA entre a costa Este e a costa Leste, nós gostávamos de projectos de ambos sítios. Para nós era estar a assistir a um filme! Havia uma preferência assumidíssima para Costa Este, mas não tinha problema nenhum em ouvir sons da Costa Leste. Assim como gostava muito de Marxman – foi um grupo assumidamente pró marxista, e foi num concerto deles no Estádio das Antas que eu e o Presto nos conhecemos! – mas também gostava de muita coisas que não era política. Desde que não fosse extrema direita, absorvemos! E acho que reflecte-se na música que fazemos, sem qualquer tipo de preconceitos. Eu costumo dizer que o único julgamento que fazemos da música é se é plástica ou se não é plástica; se tem alma ou não tem alma. Nós não acordamos sempre com a mesma vontade.

O vosso disco foi lançado no dia 26 de Abril. Foi uma data propositada? Isto porque têm temas politicamente activos, tal como "Como Conseguem", em que dizem "Não têm noção do mal que causam à minha existência", num ataque claro aos partidos políticos.
Quando começámos a aperceber de quando é que íamos ter o disco pronto – damos sempre um mês para os discos envelhecerem, como dizemos, em pipas de carvalho francês, para mandar promoção e tudo mais – fomos fazendo uns cálculos e vimos que ia calhar mais ou menos nessa altura. Pensámos que tinha piada sair no 25 de Abril, mas os discos só saem às segundas-feiras e ficou para 26. Foi bom para animar a ressaca da revolução.

Numa recente entrevista, vocês disseram que "o hip hop não vai morrer". Há muita gente a desejar essa morte?
Bem... acho que sim, deve haver. Assim como deve haver muita gente a desejar a mesma coisa do rock – ou já houve. O contexto vem do tema "Não pára", com a participação do Valete, tem que ver com o lançamento de um álbum do Nas, chamado "Hip Hop is Dead". A partir daí isso virou quase um tema do momento, sobre o que poderia acontecer. Nós achamos que não vai morrer porque vai continuar a haver tipos como nós que, independentemente das ondas e das modas, estamos aqui, somos resistentes, um pouco como as baratas, e fazemos isto com muito gosto. Enquanto assim for o hip hop não vai morrer.

 

 


O disco vai ser apresentado no dia 15 de Maio na Casa da Música. E vão tocar com o Gil Scott-Heron. Também foi uma influência para vocês?
Não é um dos nossos heróis gigantes, mas adoro a música dele e é uma lenda viva da música negra que tem um percurso muito sui generis, que disse coisas que muito pouca gente, na altura dele, tinha coragem de dizer. Há quem diga – um pouco como por cá dizem que o Sérgio Godinho foi o primeiro rapper português – que o Gil Scott-Heron foi o primeiro rapper norte-americano. São análises que gostam de fazer estas ligações sócio-antrológicas que não me fazem muito sentido. Também já ouvi dizer que o rap vem dos pauliteiros de Miranda! Mas o Gil Scott disse coisas incríveis e tive curiosidade em pegar em alguns discos que aqui tenho, ir ouvir e é incrível a actualidade da música dele. As pessoas hoje em dia ouvem um disco de rap, com alguma mensagem, e ouvem-se algumas coisas que são ditas, algumas dicas que são deixadas, umas bocas, farpas e ouve-se um disco dele e também estão lá! É incrível e triste perceber o quão pouco as coisas mudaram em tantos anos...

São temas muito actuais.
Sim, sim. E deixa a pensar: ou isto muda ou então daqui a uns 20 anos e vai haver um puto a escrever letras, a julgar que está a fazer coisas muito originais e pega num disco de Mind Da Gap e diz: “Estes gajos já escreveram sobre isso!”

 

 

 

Sonic Youth, a ternura dos 30

Foto de Sage Ranaldo, filho de Lee

 

Lee Ranaldo, guitarrista e fundador dos Sonic Youth, em entrevista ao METRO. Lee toca hoje, quarta-feira, na Galeria ZDB, com Rafael Toral (€10] e amanhã, quinta, e depois, sexta-feira, nos Coliseus de Lisboa e Porto, respectivamente. Os Sonic Youth celebram, em 2011, 30 anos de carreira.

 

O que vai tocar no concerto com o Rafel Toral?
Vai ser um concerto entre aquilo que eu costumo tocar, mais o que o Rafael toca. Nós partilhamos muito os mesmos interesses na música e trabalhámos juntos algumas vezes, entre amigos e colaborações. Acho que é, basicamente, um encontro de improvisos. O Rafael vai tocar um par de gongos e eu vou tocar a guitarra eléctrica. Vamos ver o que acontece.

Este espectáculo tem que ver com aquilo que costuma fazer a solo, de experiências sonoras, com guitarras penduradas no tecto, ou aquilo que fez com o projecto Text Of Light?
Até certo ponto será algo desse género. Tenho estado a experimentar a guitarra pendurada no tecto, através de cabos. Os Text Of Light é outra abordagem, mas também é um grupo de improviso, entre pessoas que partilham o mesmo vocabulário musical. Mas neste concerto com o Rafael acho que vai haver um certo aspecto meditativo. Vamos trabalhar entre os gongos e as guitarras.

Já alguma vez experimentou fazer isto com o Rafael?
Com o Rafael não. Mas já fiz algo similar com outra pessoa a tocar gongos, há uns dez anos. Mas tenho certeza que o Rafael tem qualquer coisa de especial para mostrar.

Este tipo de experiências musicais que faz fora dos Sonic Youth são também importantes para o trabalho que faz depois em conjunto com a banda? Ajuda-o, de certa forma, a libertar a sua criação?
Acho que se pode dizer isso. Mas nesta altura tornou-se uma parte muito natural da vida. Faço-o com alguma frequência. É uma espécie de criação e também muito pura, por ser espontânea, por não ser planeada. É muito o oposto de andar na estrada com uma banda a tocar canções e a tentar tocar canções que, até certo ponto, vão ser sempre as mesmas, todas as noites. O improviso é sempre diferente, o que acaba por ser até uma própria surpresa a nível pessoal e também um desafio.

Como guitarrista, estes concertos e experiências também podem ser aproveitadas para algo nos Sonic Youth?
Claro. Isso acontece sempre. E com todos. Porque todos nós fazemos outras coisas fora do grupo. E usamos estas inspirações quando a banda se reúne para trabalhar outra vez. Ajuda a manter as coisas equilibradas, de forma saudável. Pode ser muito refrescante tocar com variados músicos, experimentar coisas diferentes e depois levar essas ideias de volta para os Sonic Youth.

Vai passar uns dias aqui em Portugal, depois com dois concertos dos Sonic Youth, no Coliseu de Lisboa e Coliseu do Porto. São boas as memórias dos shows por cá?
Muito boas, mesmo. Sinto que os meus tempos em Portugal foram mesmo muito especiais e estou ansioso para voltar.

 

Falando um pouco dos Sonic Youth: como é que ao fim de 30 anos de banda convivem uns com os outros, agora com famílias pelo meio e tudo mais?
São apenas questões logísticas. Ainda mantemos o estúdio aqui em Nova Iorque onde trabalhamos. [Pausa] Algumas coisas mudaram, ao longo desse período de anos, mas a banda ainda se define por nós os quatro e pelo nosso interesse sobre as coisas, pelas coisas que tentamos alcançar. Quando nos juntamos, em certos aspectos, há algumas coisas que mudaram – sobretudo as famílias e mudar de casa – mas há aspectos que não mudaram nada. Há uma personalidade constante em cada um de nós. E acho que temos uma confiança muito grande no facto de fazermos algo interessante quando os quatro estão juntos...

Ainda mantém as mesmas fórmulas de trabalho, com uma grande democracia em estúdio?
Sim, é uma banda em que cada um tem direito à opinião e toda a gente trabalha para construir as canções, de maneira igual. Mas a forma como se criam canções, ao fim de mais de 30 anos, mudou um bocadinho. Queremos mudar as coisas, porque queremos inovar, mas não podemos mudar quem somos.

A propósito das famílias: é verdade que o seu filho mais velho, o Cody, também participou no último disco, “The Eternal”?
Acho que ele gravou algumas coisas, mas não chegou a tocar no disco. Fez foi algumas das fotografias do disco!

Ele também é músico, não é? Acha que foi buscar muitos genes artísticos ao pai?
Bem, não sei, mas espero que sim. Ele vai fazendo a música dele, é muito bom fotógrafo e há muitos interesses que partilhamos, nesse sentido.

Também o ajuda na música dele, ou vice-versa? Ele também lhe dá opiniões sobre a sua música?
Eu não o ajudo muito. Falamos algumas vezes, mas acho que há uma distância saudável. Ele sabe tanto o que nós [Sonic Youth] fazemos musicalmente que acho é melhor deixá-lo fazer as coisas por ele e não moldá-lo face às minhas ideias. Prefiro dar-lhe espaço.

No ano passado lançaram o “The Eternal”, mas já se diz que os Sonic Youth estão a pensar noutro disco e a querer ir para estúdio.
Bom, para já não estamos a pensar no novo disco. Ficámos muito felizes com o “The Eternal”, porque diz muito sobre o estado actual da banda. Sentimos que o disco foi muito bem sucedido e a digressão que fizemos também foi excelente. Foram uma série de canções que deram um enorme prazer tocar ao vivo. Por tradição este ano já estaríamos a pensar fazer outro álbum, mas tivemos tanto sucesso que voltar ao estúdio era repetir-nos. Então queremos fazer uma pausa este ano, aproveitar cada um de nós para projectos pessoais, afastarmo-nos um bocadinho da banda porque isto não pode ser um ciclo que arranca automaticamente.

É como o vinho: convém deixar descansar para depois saber melhor.
Exactamente!

Mas estão a preparar um DVD para este ano, certo?

Há muitos projectos que estamos a preparar. Esse DVD é sobre uma série de concertos que fizemos em 2008, do disco “Daydream Nation”. Vamos misturar imagens desses concertos com imagens de nós a gravar e a tocar esse disco em 1988 e 1989. Também temos um filme de 1991 a tentar publicar em 1991 e outro, imagens nunca vistas da digressão de 1986, do disco “EVOL”. Vamos ver se sai este ano.

Gostava de saber também a sua opinião sobre a cidade que vos viu evoluir, Nova Iorque. É um local especial em termos da história da música e da arte, sempre foi. Mas há quem diga que existe uma era artística antes e depois do mayor Rudolph Juliani, que acabou por influenciar o movimento. O que acha disto?
Bem, isso é verdade, existem essas duas eras. Mas cada uma delas tem coisas boas e coisas não tão boas. Mas de uma forma geral, Nova Iorque é uma cidade que vive e respira sobre os diferentes períodos, está em constante evolução. É um pouco o fascínio do local: há sempre coisas muito poderosas a acontecer, mesmo que sejam completamente diferentes de um tempo para o outro. Falando especificamente do que fez Juliani, o que aconteceu foi que, quando chegou, a cidade era muito mais sem lei e perigosa, mesmo fisicamente! Era complicado viver, havia muitos elementos de perigo, nos anos 70 e 80. Mas havia liberdades e podia encontrar-se um sítio barato para viver. É importante não esquecer que é uma ilha e funciona isoladamente. Eu comparo muito a Berlim, antes de o mundo cair – no sentido de estar muito isolada dentro dos EUA, com as suas ideias e estruturas. O que o Juliani fez foi limpar a cidade em vários sentidos. Poderia ter uma certa sujidade encantadora e isso perdeu-se. Também ficou uma cidade cara para viver, mas também mais segura. Hoje em dia é mais ou menos como outra cidade norte-americana, com lojas que nunca se viam, por exemplo, o K-Mart, que há em todo o lado. Perdeu algum sentido de individualidade, mas ganhou a segurança.

Ainda assim, sente falta desses dias, de quando era diferente?
Bem, nem por isso, porque experienciei e vivi esses dias. De forma geral, a ideia de mudança numa cidade costuma ser boa. Não lamento a perda desses aspectos. De certeza que no passado também aconteceram outras coisas que adorava ter visto, da mesma forma que fico feliz de ter vivido períodos como os do “Max’s Kansas City” ou o “CBGB” [night clubs de 1970, em Manhattan]. É apenas uma consequência da evolução das cidades.

 

 

Lee Ranaldo, a solo, no Chile, em Março de 2009

 

que vai tocar neste concerto que vai fazer com o Rafel Toral?
Vai ser um concerto entre aquilo que eu costumo tocar, mais o que o Rafael toca. Nós partilhamos muito os mesmos interesses na música e trabalhámos juntos algumas vezes, entre amigos e colaborações. Acho que é, basicamente, um encontro de improvisos. O Rafael vai tocar um par de gongos e eu vou tocar a guitarra eléctrica. Vamos ver o que acontece.

Este concerto tem algo a ver com aquilo que costuma fazer a solo, de experiências sonoras, com guitarras penduradas no tecto, ou aquilo que fez com os Text Of Light?
Até certo ponto será algo desse género. Tenho estado a experimentar a guitarra pendurada no tecto, através de cabos. Os Text Of Light é outra abordagem, mas também é um grupo de improviso, entre pessoas que partilham o mesmo vocabulário musical. Mas neste concerto com o Rafael acho que vai haver um certo aspecto meditativo. Vamos trabalhar entre os gongos e as guitarras.

Já alguma vez experimentou fazer isto com o Rafael?
Com o Rafael não. Mas já fiz algo similar com outra pessoa a tocar gongos, há uns dez anos. Mas tenho certeza que o Rafael tem qualquer coisa de especial para mostrar.

Este tipo de experiências musicais que faz fora dos Sonic Youth são também importantes para o trabalho que faz depois em conjunto com a banda? Ajuda-o, de certa forma, a libertar a sua criação?
Acho que se pode dizer isso. Mas nesta altura tornou-se uma parte muito natural da vida. Faço-o com alguma frequência. É uma espécie de criação e também muito pura, por ser espontânea, por não ser planeada. É muito o oposto de andar na estrada com uma banda a tocar canções e a tentar tocar canções que, até certo ponto, vão ser sempre as mesmas, todas as noites. O improviso é sempre diferente, o que acaba por ser até uma própria surpresa a nível pessoal e também um desafio.

Como guitarrista, estes concertos e experiências também podem ser aproveitadas para algo nos Sonic Youth?
Claro. Isso acontece sempre. E com todos. Porque todos nós fazemos outras coisas fora do grupo. E usamos estas inspirações quando a banda se reúne para trabalhar outra vez. Ajuda a manter as coisas equilibradas, de forma saudável. Pode ser muito refrescante tocar com variados músicos, experimentar coisas diferentes e depois levar essas ideias de volta para os Sonic Youth.

Vão passar uns dias aqui em Portugal. São boas as memórias dos concertos por cá?
Muito boas, mesmo. Sinto que os meus tempos em Portugal foram mesmo muito especiais e estou ansioso para voltar.

Falando um pouco dos Sonic Youth: como é que ao fim de trinta anos de banda convivem uns com os outros, agora com famílias pelo meio e tudo mais?
São apenas questões logísticas. Ainda mantemos o estúdio aqui em Nova Iorque onde trabalhamos. [pausa] Algumas coisas mudaram, ao longo desse período de anos, mas a banda ainda se define por nós os quatro e pelo nosso interesse sobre as coisas, pelas coisas que tentamos alcançar. Quando nos juntamos, em certos aspectos, há algumas coisas que mudaram – sobretudo as famílias e mudar de casa – mas há aspectos que não mudaram nada. Há uma personalidade constante em cada um de nós. E acho que temos uma confiança muito grande no facto de fazermos algo interessante quando os quatro estão juntos...

Ainda mantém as mesmas fórmulas de trabalho, com uma grande democracia em estúdio?
Sim, é uma banda em que cada um tem direito à opinião e toda a gente trabalha para construir as canções, de maneira igual. Mas a forma como se criam canções, ao fim de mais de 30 anos, mudou um bocadinho. Queremos mudar as coisas, porque queremos inovar, mas não podemos mudar quem somos.

Falando de famílias: é verdade que o seu filho mais velho, o Cody, também participou no último disco, “The Eternal”?
Eu acho que ele gravou algumas coisas, mas não chegou a tocar no disco. Fez foi algumas das fotografias do disco!

Ele também é músico, não é? Acha que foi buscar muitos genes artísticos ao pai?
Bem, não sei, mas espero que sim. Ele vai fazendo a música dele, é muito bom fotógrafo e há muitos interesses que partilhamos, nesse sentido.

Também o ajuda na música dele, ou vice-versa? Ele também lhe dá opiniões sobre a sua música?
Eu não o ajudo muito. Falamos algumas vezes, mas acho que há uma distância saudável. Ele sabe tanto o que nós [Sonic Youth] fazemos musicalmente que acho é melhor deixá-lo fazer as coisas por ele e não moldá-lo face às minhas ideias. Prefiro dar-lhe espaço.

O ano passado lançaram o “The Eternal”, mas já se diz que os Sonic Youth estão a pensar noutro disco e a querer ir para estúdio.
Bom, para já não estamos a pensar no novo disco. Ficámos muito felizes com o “The Eternal”, porque diz muito sobre o estado actual da banda. Sentimos que o disco foi muito bem sucedido e a digressão que fizemos também foi excelente. Foram uma série de canções que deram um enorme prazer tocar ao vivo. Por tradição este ano já estaríamos a pensar fazer outro álbum, mas tivemos tanto sucesso que voltar ao estúdio era repetir-nos. Então queremos fazer uma pausa este ano, aproveitar cada um de nós para projectos pessoais, afastarmo-nos um bocadinho da banda porque isto não pode ser um ciclo que arranca automaticamente.

É como o vinho: convém deixar descansar para depois saber melhor.
Exactamente!

Mas estão a preparar um DVD para este ano, certo?
Há muitos projectos que estamos a preparar. Essa história do DVD é sobre uma série de concertos que fizemos em 2008, do disco “Daydream Nation”. Vamos misturar imagens desses concertos com imagens de nós a gravar e a tocar esse disco em 1988 e 1989. Também temos um filme de 1991 a tentar publicar em 1991 e outro, imagens nunca vistas da digressão de 1986, do disco “EVOL”. Vamos ver se sai este ano.

Gostava de saber também a sua opinião sobre a cidade que vos viu evoluir. É um local especial em termos da história da música e da arte, sempre foi. Mas há quem diga que existe uma era artística, em Nova Iorque, antes e depois do mayor Rudolph Juliani, que acabou por influenciar a arte. O que acha disto?
Bem, isso é verdade, existem essas duas eras. Mas cada uma delas tem coisas boas e coisas não tão boas. Mas de uma forma geral, Nova Iorque é uma cidade que vive e respira sobre os diferentes períodos, está em constante evolução. É um pouco o fascínio do local: há sempre coisas muito poderosas a acontecer, mesmo que sejam completamente diferentes de um tempo para o outro. Falando especificamente do que fez Juliani, o que aconteceu foi que, quando chegou, a cidade era muito mais sem lei e perigosa, mesmo fisicamente! Era complicado viver, havia muitos elementos de perigo, nos anos 70 e 80. Mas havia liberdades e podia encontrar-se um sítio barato para viver. É importante não esquecer que é uma ilha e funciona isoladamente. Eu comparo muito a Berlim, antes de o mundo cair – no sentido de estar muito isolada dentro dos EUA, com as suas ideias e estruturas. O que o Juliani fez foi limpar a cidade em vários sentidos. Poderia ter uma certa sujidade encantadora e isso perdeu-se. Também ficou uma cidade cara para viver, mas também mais segura. Hoje em dia é mais ou menos como outra cidade norte-americana, com lojas que nunca se viam, por exemplo, o K-Mart, que há em todo o lado. Perdeu algum sentido de individualidade, mas ganhou a segurança.

Ainda assim, sente falta desses dias, de quando era diferente?
Bem, nem por isso, porque experienciei e vivi esses dias. De forma geral, a ideia de mudança numa cidade costuma ser boa. Não lamento a perda desses aspectos. De certeza que no passado também aconteceram outras coisas que adorava ter visto, da mesma forma que fico feliz de ter vivido períodos como os do “Max’s Kansas City” ou o “CBGB” [night clubs de 1970, em Manhattan]. É apenas uma consequência da evolução das cidades.




Ibiza 2010 - Reportagem - "Ibiza é uma experiência para repetir"

Mais de 30 escolas e cerca de mil alunos escolheram Ibiza para esta viagem de finalistas. Entre excessos e algum controlo, a organização faz um balanço positivo. O Metro falou com o director da Total Fun, Ricardo Baptista, a poucas horas do fim do último dia desta viagem e o balanço não podia ser mais positivo.

 

Qual o balanço que faz desta passagem por Ibiza?

Ainda não é fácil fazer, no entanto, o resumo é muito positivo. Sem dúvida que foi uma operação de êxito. Ibiza foi pela primeira vez um destino para finalistas. E teve um grande êxito nas vendas. Foi o destino número 2 em quantidade, no primeiro ano em que apareceu. Só ultrapassado mesmo por Lloret. Algo que é inédito, e é fruto da marca Ibiza. A nossa operação foi muito complexa. E por ser um destino que não está habituado a trabalhar na época da Páscoa, tivemos que garantir a abertura de espaços, para que fosse um êxito. A ilha abriu só para nós. Claro que houve uma série de percalços que fomos resolvendo pelo caminho.

 

Uma boa notícia foi o hotel...

Sim, é uma unidade hoteleira 4 estrelas superior. Foi a melhor desde sempre para os finalistas do secundário. Foi surpreendente o hotel aceitar um grupo de jovens e ainda por cima em regime Tudo Incluído. Até porque é normal aquelas brincadeiras com extintores, placas de sinalécticas que eles gostam de levar.

 

 

Ibiza é uma experiência para repetir?

Sem dúvida, é um destino para conquistar o público universitário. Que este ano não foi o público alvo, embora existam alguns grupos.

 

Ao todo, quantos alunos receberam?

Cerca de mil alunos, 30 e poucas escolas. Do universitário são cerca de 100 pessoas.

 

A Total Fun é uma empresa de eventos. O que prepararam aqui para estes jovens?

Somos uma operadora de turismo e animação. A nossa principal preocupação é transformar um destino e um produto em algo inédito e inesquecível. E é nesse sentido que trabalhamos o produto e as actividades. No caso de Ibiza, conseguimos congregar actividades muito diversificadas. Houve mais de 20 actividades opcionais. Mergulho, volta de bicicleta à ilha, paintball. Algumas foram actividades chave. Como foi o caso do paintball. Tínhamos um campo no meio da montanha que está transformado numa pista de discoteca enquanto se joga. É mesmo algo à Ibiza. É também preciso destacar a noite. Conseguimos abrir em exclusivo o Pacha Ibiza. Foi falado que seria impossível. Mas conseguimos. Esse é um marco. E encheu com 4 mil pessoas. Foi o momento mais alto da semana. Além de ter sido uma festa sem consumo alcoólico. De notar também a abertura da discoteca Éden, uma das seis marcas de Ibiza, com a festa da água/ espuma. Foi algo muito diferente.

 

Crédito: Mário Afonso/Total Fun
Crédito Mário Afonso/Total Fun

 

É normal o director da empresa que organiza estar presente durante estas viagens? É para acompanhar tudo de perto?

É obrigatório. Este ano temos a empresa a operar cinco destinos em simultâneo. O que transforma o projecto e lhe dá uma complexidade muito maior. Desde tratar de autocarros, barco, transferes diários para a ilha, é uma gestão pesada e variada. Além de ser uma primeira vez em Ibiza, há sempre problemas para resolver no momento com êxito. Só foi possível porque temos uma equipa muito competente. São 30 pessoas do staff, mais artistas e animação.

 

O que é mais complicado numa viagem destas?

Há dois pontos essenciais. A logística, a gestão dos transportes e fazer com que tudo esteja em sintonia com as expectativas do cliente, que este não fique muito tempo à espera. Esta é uma das tarefas mais complexas, e a outra é a gestão de recursos humanos, a equipa. Este é um projecto que envolve muita responsabilidade. Estamos a falar de jovens, que muitos deles são menores de idade. Esse é outro desafio.

 

E os excessos? Como se conseguem controlar?

Essa é das questões mais básicas. E é a que mais preocupa os encarregados de educação. Nós não controlamos. É impossível. O que é feito é uma assistência. Juntar os clientes todos na mesma unidade hoteleira foi uma vantagem. Estamos ali ao lado, 24h por dia. Eles sentem essa observação, e ficam mais controlados. E isso notou-se aqui em Ibiza.  São jovens e o nosso papel é mais a prevenção.

 

Como receberam a notícia da morte de um jovem em Lloret?

Não é a primeira situação de que se fala. Há uns anos foi a violação. Felizmente nenhuma dessas situações ocorreu directamente com a Total Fun, mas são situações que extravasam o âmbito das agências e das viagens de finalistas. Afecta todos. Infelizmente a maioria das vezes são especuladas nos media, há algum sensacionalismo. E cabe-nos a nós tentar que a realidade seja reposta e seja tranquilizado o mercado. Neste caso do rapaz é importante que se refira quais as condicionantes. Podia ter acontecido na casa dele. Aqui o que fazemos é o reforço da segurança. Por exemplo, contratámos seguranças de Portugal para vir para o hotel, staff de apoio, que são pagos por nós e a própria unidade hoteleira também faz reforço de segurança.

 

Alguns dos jovens disseram-me que foram avisados nos primeiros dias para que não saltassem de varanda em varanda. Que avisos é que vocês dão?

Há dois momentos muito importantes. Há um briefing logo à chegada, antes deles saírem dos autocarros. Duro, frio, e conciso. Em que se fala das obrigações, responsabilidades e riscos que correm se não cumprirem as regras. O segundo momento é feito só com os chefes de grupo em que se apela ao bom senso e à questão das cauções. São 50 euros que podem perder. E aí pensam um pouco melhor e tentam controlar as coisas.

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